O Centralismo e o Quarto Reich

Posted: Janeiro 30, 2012 in politica, progresso, Sonhos, vida

Ora está Portugal e meio em polvorosa por causa dos Alemães, e da Fräulein Angela em particular, acusando-os de querer implementar o Quarto Reich através de instrumentos de guerra económica, agora que os Fritz anunciaram que querem um dos deles a tomar os destinos orçamentais da Grécia e de Portgual, para garantir o bom governo de capitais.

Não tardaram as vozes do Zé Povinho e, com notável falta de clareza política, dos seus Senhores, a reclamar a falta de soberania que tal arranjo representaria. Eu, estando de acordo com a ideia da falta de soberania, não estou de acordo com o protesto de nenhuma das partes e, pensando de forma suficientemente retorcida, consigo até encontrar alguns potenciais benefícios neste arranjo, conforme explicarei em seguida.

Antes de mais, convém lembrar que quem corta o bacalhau não desempenha cargos políticos. Quem corta o bacalhau nomeia cargos políticos para que os interesses corporativos que protege sejam garantidos em forma de lei, isenções fiscais (para o “patrocinador”), aumentos de impostos (para todos os outros), reduções salariais, e um vasto etcétera que não vale a pena aqui enumerar.

Desse ponto de vista a menina Merkel é apenas uma funcionária de outros, assim como o Passos Coelho o é, embora numa posição hierárquica de muito menor prestígio. Digamos que a Merkel é uma espécie de Directora de Operações (COO) e o Passos Coelho é chefe de uma agência bancária de uma remota localidade, com uma carteira de 4 clientes todos eles tesos. Outros mais retorcidos do que eu diriam que dado o estado da nação, o Passos seria uma espécie de limpa cagadeiras, mas adiante.

O inimigo, dizia eu, está mais acima e, parafraseando Sérgio Castro dos Trabalhadores do Comércio, é o sultão da energia, é o rei do remédio, é o que vende a pistola e financia o assédio, vende o craque da bola, manda homens para a luta, é o que nunca dá a cara, é o filho da puta. Tem razão, e assim sendo, os políticos estão a gerir um programa com objectivos tão claros quanto ocultos e subversivos. A palavra chave aqui é gerir.

Há muitos modelos de gestão, e o centralismo é um deles. O que Merkel está a tentar fazer é centralizar as políticas económicas da União Europeia debaixo de um comité próximo de si e dos interesses que protege. Os nossos governantes devem estar bem familiarizados com esse modelo, até porque o adoptaram há já muitos anos “a bem da nação”.

Não lhe agrada à menina Angela a ideia de federação económico-política com a respectiva autonomia orçamental e fiscal dos estados membros, da mesma maneira que não agrada aos nossos governantes a ideia de uma federação de regiões em portugal, com a respectiva autonomia orçamental e fiscal.

Face a isto, parece-me que aos nossos dirigentes restam duas possíveis decisões:

  1. entregarem, de imediato e proactivamente, a soberania orçamental à UE, respeitando a ideia que têm defendido nos últimos 30 anos de que o centralismo é bom e se recomenda, matando imediatamente esses gritos idiotas de soberania orçamental regional
  2. praticarem essa ideia do federalismo desde já no território nacional, começando por deixar de roubar todo um país para alimentar o vale do Tejo, e acabando por implementar, sem referendo, a regionalização prevista na constituição.

Agora, usar um argumento ou outro consoante o que mais lhes interessa é pouco honesto. Defender o centralismo dentro de portas e gritar contra ele na Europa, é de uma hipocrisia quase inacreditável, possível apenas na política em Portugal.

A esses governantes eu pergunto: Percebem, agora que vêem o outro lado da moeda, que esta tanga do centralismo é realmente asfixiante? Em que ficamos meus senhores? Regionalização já, ou aceitar o centralismo imposto pela UE? É que, francamente, eu não reconheço integridade de valores numa terceira via, se é que ela pode existir.

Dito isto, eu estou quase  tentado a aceitar as recomendações da Merkel. Digo isto porque a União Europeia reconhece formalmente o Norte de Portugal e a Galiza como uma região única, compartilhando características especiais (genéticas e antropológicas, entre outras), e por isso mesmo lhe atribui uma série de subsídios destinados ao seu desenvolvimento. Infelizmente, esses fundos são roubados pelo Terreiro do Paço para investimentos no Vale do Tejo debaixo do argumento de que todo o país beneficia com o que se faça na capital do império, da mesma maneira, diria eu, que Lisboa beneficiará com os desvios que a menina Merkel quiser fazer no sentido Lisboa – Berlim.

Com isto dei comigo a pensar:

E se à custa do controlo orçamental em Portugal operado pela equipa da Merkel, o Norte e outras regiões violentadas pelo centralismo começassem a ver (de facto) os fundos que lhes são destinados pela UE? Ficaríamos a ganhar seguramente, e até era maneira de castigar a máfia centralista que nos rouba actualmente. Francamente, é-me indiferente ser roubado por uns ou por outros, e a equipa Merkel ainda não teve oportunidade de mostrar o que pode fazer pela região que amo até ao osso. Da minha parte, menina Angela, mande lá o seu contabilista dizer onde podemos gastar os melreis, que pode ser que nos toque aquilo que é nosso de direito e nos tem vindo a ser roubado.

Os centralistas convictos que agora vêm reclamar perda de autonomia que se fodam, que o povo a que eu pertenço já sofre à custa do centralismo deles há muitos anos.

Alternativamente, e melhor ainda, os centralistas que pratiquem o que apregoam no seu mais recente protesto; Que reconheçam que o centralismo é realmente um modelo que só funciona para alguns e à custa da miséria de uma imensa maioria, e que implementem desde já no território nacional a essência dos seus actuais argumentos, dando autonomia orçamental e fiscal às regiões de Portugal, sem referendo nem demora.

Comentários
  1. Serjom diz:

    que é que queres que te diga? Que mais uma vez e como já é habitual, acertaste em cheio. E parafraseando Dupond e Dupont, eu diria mesmo: que se fodam!

  2. Ferdinand Sampayo diz:

    Keep up a clear mind Joe! Well put (as usually).

  3. Ricardo Caldas diz:

    Não confio no regionalismo (pelo menos nos países latinos) e basta olhar para os exemplos, para verificar as dívidas astronómicas contraídas que tem as regiões espanholas ou mesmo a nossa Madeira e os Açores. (http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1809244)
    Não é o regionalismos que resolve alguma coisa. O que o regionalismo vai fomentar é o aparecimento de novos Albertos Jardins.
    Não temos políticos sérios e honestos e muito menos políticos interessados nas suas populações. Os nossos políticos estão essencialmente interessados em ganhar eleições para se manterem no poder e daí apenas tomarem medidas populistas e nada mais.

    E Governos regionais vão fazer exactamente o que faz o poder central, contrair dívida para mostrar obra e quando dermos por ela temos muita obra e ainda mais dívida que obra e voltamos ao ponto onde estamos.

    Eu, assim como o João, que estamos ligados às novas tecnologias, sabemos que nos tempos que correm, que a distância já não é, nem problema, nem desculpa para que se faça má gestão.

    Basta que as Câmaras Municipais tenham, e isso concordo, mais alguma autonomia e que acima de tudo, cooperem entre si. É completamente impensável que, por exemplo, a CM.Gaia e a CM. Porto não cooperem mais fortemente, aproveitando o melhor dos dois. E em oposição, o que vemos é fenómeno que eu relatei em cima, o presidente da CM Gaia está em Gaia a trabalhar para se candidatar ao Porto e a endividar a CM de Gaia em busca do seu El Dorado.

    Por isso, cooperem. Não conheço muitas acções de cooperação entre a CM de Porto e a de Vila Real ou de Bragança. Então para quê falarmos de regionalização, quando o que irá acontecer, é que as capitais de região vão fazer aquilo que o Governo central faz agora, canalizar capitais, para a capital da região.

    • joemedicis diz:

      Eu sugerira até, mesmo com regiões, que cada região tivesse capitais rotativas ou que as tivesse distribuídas, i.e., não uma só capital mas várias em simultâneo, para evitar esses problemas.

      De qualquer das maneiras, julgo que o pais ganharia com 5 ou 7 ou 9 capitais regionais do que com o actual modelo estritamente centralista onde uma região gere a seu favor.

      Com todas as falhas que a regionalização possa ter, continuo a não conseguir imaginar de que forma pode ser pior do que o modelo actual, pelo menos do ponto de vista dos que não fazem parte do aparelho centralista ou dos que em volta dele gravitam.

      Estou de acordo com as questões de cooperação inter-camarária.

      Um grande obrigado pelo comentário.

      • Ricardo Caldas diz:

        Se os sistemas que envolvem pessoas fossem tão simples como os sistemas informáticos, criava-se um IF e um Else e as coisas estavam resolvidas.
        Quando existem pessoas metidas no sistema com a capacidade de o manipular, entra o Murphy em acção e alguma coisa vai correr mal.
        Quando comparamos uma sociedade como a nossa (em Portugal), em Inglaterra talvez seja um pouco diferente, onde um mestre te diz isto durante uma aula de um MBA:
        “Se o Primeiro Ministro souber que despedir 300 000 pessoas é o melhor para o país, o que é que ele vai fazer?
        A resposta é Nada. Porque em primeira instância, o PM (Primeiro Ministro, não confundir com Project Manager 😉 ), acha que a melhor solução para o país, é ele manter-se no cargo e caso despeça 300 000 pessoas, tem a certeza que não volta a ser eleito.”

        Essa foi uma frase que me fez mudar a forma de ver a politica. Esse professora era na altura Presidente da Entidade Reguladora da Saúde(http://pt.linkedin.com/pub/%C3%A1lvaro-almeida/13/27/52b). Alguém que ia para as aulas, de carro com motorista. E marcou-me. Fez-me ver, que todos os politicos decidem com o egoísmo de se manterem eternamente no sei posto. E depois analisamos o Alberto da Madeira, a Fátima de Felgueiras, o Isaltino de Oeiras e percebemos que vale tudo, vale tudo para se segurarem na cadeira, porque eles acham mesmo que são a salvação.

        O modelo, eu acho que neste país, nunca vai interessar muito. Até pode estar muito certo, dizer-se que viria mais dinheiro para o Norte ou para o Alentejo, etc. Mas e depois? O ciclo recomeça, poder, endividar para fazer obra para dar nas vistas, tapar buraco, mais dívida, e por aí fora. Gyl e Gyl foi outro grande exemplo disso.

        Sinceramente acho que quem realmente quer fazer alguma coisa pelo país sabe como o fazer e acabar por consegui-lo. Cooperação com a Galiza nem deveria ser preciso legislar, é algo que é inato, Corunha fica mais perto que Lisboa, então essa cooperação já deveria ter sido criada.
        Não foi preciso legislar para músicos portugueses cooperarem com espanhóis e vice-versa.
        Eu tenho familiares em Salamanca, e pode parecer incrível, mas Salamanca está a desenvolver parcerias com o porto de Aveiro. Há uma ligação forte entre estas duas cidades, que se calhar muita gente não conhece.

        Goste-se ou não se goste, e nem sequer é da minha ala politica, muito pelo contrário, mas outra frase que me ficou na memória, foi do Rui Rio, num debate. Ele disse algo como, podem tentar fazer o que quiserem, porque enquanto os politicos não mudarem , as pessoas não confiarão neles e nada terá sucesso. E disse mais, que a classe politica é a responsável pela falta de confiança de toda a gente. http://www.destak.pt/artigo/109019

        Para mim, por muito utópico que possa parecer, só um modelo popular, em que as pessoas são chamadas a pensar e votar nas questões importantes, local, regional e nacionalmente falando, é que funcionaria. Colocava a responsabilidade em todos.

        Obrigado pela resposta e só por causa disso vou comprar o livro dos primeiros 10 anos dos Trabalhadores e pela entrevista que ouvi hoje, do Porto Canal, acho que contam contigo para fazer o livro dos 20 anos seguintes. 🙂

  4. Serjom diz:

    O problema dos défices nas autonomias é muito mais um problema de corrupção que qualquer outra coisa. Cada vez mais os responsáveis pela aplicação dos dinheiros públicos, sucumbem à tentação de ficar com uma percentagem, já seja para montar um chalet, comprar um barco ou financiar o partido. Esse é o verdadeiro problema. Os cidadãos têm é que exigir a criação de leis que nos protejam deste paradigma que, às vezes, já parece um dado adquirido e aceite pela sociedade. Uma Região gerida com seriedade poderia ser um bom exemplo para o resto do país. Não poderemos negar a nossa origem latina, mas podemos deixar de pensar como tal.

    • Concordo a 100% aliás, como se pode ver através deste grupo no facebook (mas é mais do que isso): https://www.facebook.com/groups/9543009462/

      Existem interesses financeiros que compram tudo e todos. E o que fazem os presidentes das Câmaras do NORTE em relação à eliminação do património mundial que é o Douro vinhateiro (Primeira região demarcada do mundo)? Nada…

      Existe 1 e apenas 1 presidente de Câmara, salvo erro o de Mirandela… e então porque não os presidentes das Câmaras do Porto, de Gaia, de Valongo, de Matosinhos, de Amarante, Vila Real, etc, etc, etc.? Afinal o Douro não será do Norte? Será só de Mirandela?

  5. Serjom diz:

    O turismo do Douro está “nas mãos” de 3 instituições 3, que não falam umas com as outras e remam cada uma para seu lado. Mesmo sabendo que a corrente flui sempre para o mesmo lado, parecem fazer-se desentendidos desse fenómeno natural e inexorável e cada uma se ampara numa margem distinta ou se pendura numa ponte só para poder evitar o contacto e o consequente compromisso. Quando os interesses partidários (leia-se interesses particulares de umas cúpulas políticas minoritárias) se sobrepõem aos interesses das populações e das regiões, em suma, aos interesses nacionais, algo vai mal na profissão política. E os maus profissionais, noutras profissões, perdem o emprego e, eventualmente procuram outras alternativas de subsistência. Neste caso parece não ser assim. E se mudássemos?

  6. Serjom diz:

    Ricardo, já agora, obrigado pelo link. Muito interessante. E espero que o livro lhe pareça convincente. O CD, creio, vale a pena ouvir. Abraço

    • Sérgio, tenho amigos que estiveram na Génesis desse Movimento, que está no link e posso com toda a certeza dizer-vos que é provavelmente o grupo de cidadãos independentes mais bem organizado que conheço. Já chegaram à UNESCO, ao Parlamento Europeu e ao nosso parlamento claro.
      Eles tem conhecimento que os “acidentes” ocorridos recentemente na Linha do Tua, são tudo menos acidentes (se é que me faço entender).
      Já sofreram tentativas de “suborno”, sendo que indirectamente, com ofertas de sedes para o movimento (por parte de autarquias pró EDP).
      E tem mostrado muito dessa zona do Douro. Já tentaram re-habilitar a linha do Tua.
      Mas o que mais me espanta, é que muitos dos defensores da linha, nem sequer são portugueses! São estrangeiros que defendem aquilo que muitos portugueses não se importam de destruir.

      O livro está fantástico, tem é de ser consumido “aos bocados”, até porque eu já sou da década de 80 e a primeira recordação que tenho vossa é um disco de Vinil dos Tigres de Bengala. E tal como dizias no Porto Canal, o livro está a revelar-me muita coisa dos anos 80, para além da vossa história enquanto banda. As imagens são também muito bem escolhidas.
      E eu estou em fase de passagem de VHS para o digital e tenho alguma curiosidade em ver o que é que ainda consigo arranjar das minhas muitas K7.

      E eu que pensava que já conhecia muito da década de 80, estou a ver que afinal não sei é nada!
      Já o álbum anterior estava excelente, Este álbum acho que está curto, faltam pelo menos umas 45 músicas novas, pelo menos.

      Espero um dia cumprir um dos meus outros objectivos, que é ver um concerto vosso ao vivo, nem que seja em Londres!

      Um abraço para todos.

  7. Um vídeo engraçado sobre o Neoliberalismo

  8. É por isto que eu não acredito nas pessoas.http://www.jn.pt/PaginaInicial/Seguranca/Interior.aspx?content_id=2408677

    Eu até sou gajo para acreditar em sistemas, a matemática diz-nos que funcionam, mas a variável “ser humano” corrompe todo e qualquer sistema.

  9. Será que a Grécia e a França, estarão a dar uma lição ao mundo.
    Duas grande civilizações, que foram baluartes da Democracia no seu tempo, parecem estar a dar o exemplo que a Democracia ainda pode existir.

    Será?

  10. Já agora. Grande concerto na Maia. Foi o meu primeiro concerto ao vivo e só tive pena de não conseguir as assinaturas de todos vós.

    O meu muito obrigado pelo grande espectáculo. Façam-me é um favor, não dêem mais espectáculos com o pessoal de cú alapado… a vontade com que eu estava de me levantar e desatar a abanar o capacete.

  11. Um bom artigo para análise:
    Rui Tavares – A Vingança do Anarquista

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